O Halloween, conhecido no Brasil como “Dia das Bruxas”, é popularmente celebrado anualmente no dia 31 de outubro como uma noite de diversão e fantasias assustadoras, mas suas raízes mergulham em uma época de trevas e medo muito reais. Durante a Inquisição, que durou aproximadamente entre os séculos XIII e XIX, o pânico moral em torno da bruxaria levou a perseguições arbitrárias e cruéis, que ainda nos servem de alerta sobre os perigos do fanatismo e da intolerância.
O astrônomo e divulgador científico Carl Sagan (1934-1996), em seu livro “O mundo assombrado pelos demônios: a ciência como uma vela na escuridão” (1995), recorda-nos que a perseguição às “bruxas” era sustentada por crenças irracionais que colocavam a superstição acima da razão. Ele argumenta que, sob o pretexto de purificar a sociedade, milhares de inocentes foram torturados e mortos. A paranoia da época fez com que a mera suspeita, sem evidências concretas, fosse suficiente para que alguém fosse sentenciado à morte ou, quando cabível, a uma abjuração (renúncia pública de crenças ou práticas consideradas heréticas) somente. Sagan nos lembra que, por trás das fogueiras e dos gritos de “herege” da multidão, estava uma sociedade onde o medo triunfava sobre a compaixão e a justiça.
Por sua vez, o historiador Carlo Ginzburg (1939-), em seu livro “Os andarilhos do bem” (2010), aprofunda-se na análise das crenças e dos mitos populares que foram usados para justificar essa “caça às bruxas”. Ele mostra como a ignorância e a necessidade de controle social levaram à criação de bodes expiatórios, pessoas cuja existência ameaçava a ordem estabelecida. Nos detalhes históricos e nas lendas que ele apresenta, fica claro que as acusações de feitiçaria eram menos sobre magia e mais sobre o poder de dominação.
Ao celebrarmos o Dia das Bruxas, vale a pena refletir sobre esses episódios sombrios, lembrando-nos de que a intolerância e o fanatismo não pertencem apenas ao passado. Em tempos em que a ciência e a razão lutam contra novas formas de desinformação e preconceito, esta data nos convida a reviver não apenas histórias de terror ficcionais, mas também a evitar que a “caça às bruxas” se repita de qualquer outra forma.