A Arte de Perguntar: Quando Perdemos a Curiosidade?

Lembro-me bem das tardes na escola, quando “alguém tem perguntas?” gerava uma infinidade de mãos levantadas e olhares curiosos. Perguntávamos sobre tudo: como a Terra girava, de onde vinha o vento, o que realmente havia no fundo do mar… e o que parecia simples tinha o poder de abrir um universo de possibilidades. Mas, em algum ponto, essa curiosidade foi silenciada. Nos tornamos adultos que evitam perguntas e se contentam com respostas prontas.

Será que estamos perdendo nossa capacidade de questionar o mundo? Dados da UNESCO mostram que 20% das crianças até 10 anos já perdem o interesse por estudos exploratórios, e esse número só cresce. No Brasil, 27% dos jovens entre 15 e 17 anos abandonam a escola, segundo o IBGE. Sem incentivo à curiosidade, perdemos também o fôlego para a descoberta, o que cria uma sociedade que se acomoda – uma zona de conforto perigosa, onde o pensamento crítico é enfraquecido e o potencial de inovação, reduzido.

A consequência é visível. Dados da Organização Mundial de Propriedade Intelectual (OMPI) mostram que o registro de patentes em áreas como ciências ambientais e biotecnologia tem diminuído globalmente. No Brasil, apenas 2% das patentes depositadas em 2021 envolviam tecnologias verdes, mesmo com a sustentabilidade sendo uma demanda urgente. E não é só isso: uma pesquisa da Harvard Graduate School of Education aponta que apenas 32% dos jovens saem do ensino médio preparados para resolver problemas complexos no ambiente de trabalho.

E o que estamos fazendo para recuperar essa curiosidade? Parece que a “zona de conforto intelectual” mencionada pelo psicólogo Adam Grant se tornou o espaço onde nos acomodamos com a falta de questionamento. No mundo dos negócios, por exemplo, empresas que incentivam o pensamento criativo crescem 30% mais rápido, de acordo com dados da McKinsey, do que aquelas que operam com estruturas rígidas e pouco abertas ao erro. Quando deixamos a curiosidade de lado, deixamos de buscar novas soluções e diminuímos a capacidade de adaptação.

Por trás dessa inércia, há também o medo de errar. Muitos de nós, como adultos, agimos como se soubéssemos todas as respostas, evitando perguntas que possam expor nossas dúvidas. Paradoxalmente, essa atitude pode nos tornar reféns de um conhecimento limitado, impedindo-nos de explorar o novo e de aprender com os próprios erros. Afinal, é a capacidade de questionar que abre portas para o aprendizado, e, sem ela, nos tornamos apenas repetidores de certezas desgastadas.

Curiosidade é, em essência, o motor da inovação e do crescimento pessoal. Voltar a incentivar o questionamento, o erro como aprendizado e a liberdade para explorar deveria ser prioridade para uma sociedade que precisa de novos inventores, pesquisadores e empreendedores. Em vez de temer a incerteza das perguntas, deveríamos acolhê-las.

Quem sabe, ao fazer isso, possamos lembrar e resgatar aquela criança que um dia, de olhos brilhantes, ergueu a mão e perguntou, com toda a simplicidade e coragem: “por quê?”

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