A Geração Z e o “Nem-nem”: O Futuro dos Jovens em um Mundo de Incertezas

Em um mundo cada vez mais digital e acelerado, falar da Geração Z é abrir um leque de percepções que, muitas vezes, se chocam. De um lado, os dados alarmantes que apontam para uma juventude rotulada como “nem-nem” – jovens que nem estudam, nem trabalham. Do outro, uma geração profundamente conectada com o mundo digital, que já nasce com um celular nas mãos e uma compreensão natural de tecnologia que muitos de nós lutamos para alcançar.

Mas o que está realmente por trás desse termo “nem-nem”? Segundo a OCDE, aproximadamente 36% dos jovens brasileiros entre 18 e 24 anos estão nessa situação, o que nos coloca em uma posição desconfortável, entre os países com maior proporção de jovens fora do mercado de trabalho e da educação. O número impressiona, mas também traz à tona a necessidade de entendermos o contexto.

Parte dessa realidade, claro, é fruto de um cenário global desafiador. A pandemia, que revirou a economia de ponta-cabeça, deixou suas marcas profundas, especialmente entre os mais jovens. A inflação crescente elevou os custos de vida a níveis que tornam difícil para muitos jovens sequer considerarem a possibilidade de estudar ou trabalhar enquanto tentam pagar as contas. As oportunidades parecem, para muitos, cada vez mais distantes.

Além disso, há a questão da saúde mental, um tema que se tornou cada vez mais evidente. A Organização Internacional do Trabalho já destacou que a Geração Z é uma das mais afetadas por problemas como ansiedade e depressão, o que contribui diretamente para esse afastamento do mercado. Diante de um futuro que parece incerto, muitos se perguntam: “Vale a pena o esforço?”

Ainda assim, ao mesmo tempo que enfrentam desafios, esses jovens também possuem uma característica única: sua habilidade natural para navegar no mundo digital. A mesma geração que é vista como desengajada e desmotivada, também é a que está criando novos negócios online, desenvolvendo soluções digitais e encontrando novas formas de expressar sua criatividade em um mundo que muda a cada segundo. É uma geração que cresceu em meio à inovação, e talvez por isso mesmo, sinta que o caminho tradicional de estudo e trabalho não é suficiente.

Empreender pode parecer uma solução óbvia para muitos jovens da Geração Z. Afinal, eles já dominam as redes sociais, as ferramentas digitais e têm uma compreensão natural de como o marketing digital funciona. Mas será que empreender é o caminho mais fácil? Ou será que as inseguranças econômicas, o medo do fracasso e a busca por equilíbrio emocional limitam esse ímpeto?

Há quem diga que essa geração está mais cautelosa. Muitos jovens Z observaram de perto as dificuldades enfrentadas pelas gerações anteriores: crises financeiras, instabilidades no mercado de trabalho e, claro, a pressão por resultados rápidos. Com isso, a Geração Z parece buscar mais do que apenas a estabilidade financeira. Eles querem propósito, impacto, e talvez, acima de tudo, saúde mental.

Se há algo que chama atenção nessa geração, é a busca por um equilíbrio. Eles não querem apenas trabalhar. Querem trabalhar por algo que faça sentido. É uma geração que se engaja com causas sociais, ambientais e que, mais do que qualquer outra, questiona o impacto de suas ações no mundo. Não é à toa que, segundo a Harvard Business Review, mais da metade dos jovens da Geração Z já se veem envolvidos ou interessados em empreender. Eles procuram alternativas que ofereçam flexibilidade e um propósito claro, mesmo que isso signifique seguir por caminhos menos convencionais.

Mas e as empresas? Como o mercado de trabalho pode responder a essa demanda por flexibilidade e propósito? As escolas estão preparadas para formar essa geração que não se contenta apenas com diplomas, mas quer habilidades práticas e aplicáveis? Talvez o mundo dos negócios também precise se reinventar para acolher esse novo jeito de ver o trabalho.

Nesse sentido, a educação também precisa evoluir. Não podemos mais nos apoiar em currículos engessados que não conversam com as necessidades e desejos desses jovens. O futuro do trabalho, para essa geração, pode estar em algo que ainda não conhecemos completamente. E será que estamos preparados para isso?

Os caminhos são muitos, e a verdade é que não há respostas prontas. A Geração Z é uma geração cheia de paradoxos: ao mesmo tempo que parece desmotivada, está encontrando novas formas de se engajar; enquanto enfrenta dificuldades, também está à frente em questões que envolvem inovação e impacto social.

Resta a nós, como sociedade, refletir: como podemos criar um ambiente que favoreça o potencial dessa geração? E, mais importante, será que essa geração está, de fato, perdida? Ou precisaremos moldar o futuro dos negócios e da educação, para se adequarem a nova geração? Será que caberá a nós a execução, ou poderemos contar com o protagonismo deles?

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