Por que é tão difícil desmentir “fake news”?

Imagem: Carlos Ruas

Você já se perguntou por que é tão difícil desmentir uma informação falsa?

A Lei de Brandolini, também conhecida como o princípio de assimetria da estupidez, nos dá uma ótima pista. Proposto pelo programador Alberto Brandolini (1974-presente), esse princípio afirma que “a quantidade de energia necessária para refutar um boato é uma ordem de grandeza maior do que a necessária para produzi-la“. Em outras palavras, desmentir informações falsas exige um esforço muito maior do que o necessário para espalhá-las.

Isso ocorre porque é mais fácil acreditar em informações falsas, que geralmente são simplistas, sensacionalistas e apelam às emoções, enquanto as provas e argumentos que desmentem essas informações exigem uma análise mais detalhada e cuidadosa e a apresentação de fatos.

A disseminação de fake news durante a pandemia de COVID-19 exemplifica esse problema, especialmente no Brasil. Informações falsas, como “beber chá/água quente mata o vírus” ou “vacinas contêm microchips para controle populacional” (não só em relação a vacinas contra a COVID-19), prejudicaram (e prejudicam) as campanhas de saúde pública. Um estudo publicado por pesquisadores da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) na revista científica da Organização Pan-Americana da Saúde em 2021 destacou que esses boatos não apenas criaram desconfiança nas vacinas, mas também dificultaram a adesão às medidas de prevenção, como o uso de máscaras e o distanciamento social​.

Além disso, a desinformação contribuiu para a queda das taxas de vacinação no país, um alerta grave para um sistema de saúde que já foi referência mundial em imunização. O Ministério da Saúde apontou que rumores infundados sobre a segurança das vacinas enfraqueceram programas de imunização essenciais, colocando em risco a saúde de milhões​.

O impacto da desinformação vai além da saúde pública: ela pode influenciar eleições, alimentar conflitos sociais e até prejudicar decisões econômicas. Um estudo publicado por pesquisadores do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, na sigla em inglês) na revista Science em 2018 revelou que notícias falsas têm 70% mais chances de serem compartilhadas nas redes sociais do que notícias verdadeiras, evidenciando a escala desse problema.

Como podemos enfrentar esse desafio? A alfabetização midiática e informacional é essencial. Precisamos aprender, desde a mais tenra idade, a avaliar criticamente as informações que recebemos, na Internet e fora dela, identificando fontes confiáveis e verificando os fatos antes de compartilhar algo. Além disso, plataformas digitais devem assumir maior responsabilidade sobre aquilo que é publicado nelas, algo que tem sido feito por meio da implementação de mecanismos que limitam a disseminação de conteúdos falsos, como a checagem de fatos e a sinalização de publicações duvidosas algo que tem sido feito, mas que ainda não é suficiente para conter o problema em larga escala, especialmente devido ao alcance viral das fake news e à dificuldade de moderar conteúdos de forma eficaz em múltiplos idiomas e contextos culturais.

Pense pelo menos duas vezes antes de acreditar em qualquer informação que chega a você e compartilhá-la, pois combater a desinformação é uma tarefa árdua, que exige muito mais esforço do que espalhá-la. É essencial estarmos sempre atentos, com nosso senso crítico sempre ligado, para identificar e proteger a verdade e a confiança nas informações que moldam nossa sociedade.

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